Hoje é o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres, um dia que serve para nos consciencializar sobre a quantidade de mulheres que morrem pelas mãos de maridos, namorados ou ex-companheiros.
A manchete hoje do jornal O público é “Violência Doméstica matou 33 mulheres desde o inicio do ano”, se calhar para muitas pessoas até é um número normal, pois afinal somos 10 milhões e só morreram 33 mulheres alvejadas, golpeadas, espancadas até à morte ao murro ou ao pontapé. Mas o importante de perceber aqui é que elas não morreram nas mãos de estranhos, mas por companheiros que as desrespeitaram até à morte.
Inunde-me uma raiva, uma dor que me invade a alma, ao ver constantemente notícias de mulheres que são brutalmente espancadas até à morte, como foi o caso de uma notícia que deu ontem na televisão. Jovens que são regadas com gasolina e ácido pelos ex-namorados, estragando assim uma vida, uma cara, um corpo, uma personalidade, pois se aquelas mulheres não são as mesmas quando se olham ao espelho muito menos serão as mesmas interiormente. Muitos de nós pensamos elas também são parvas por se manterem naquela situação, por aceitarem os maus-tratos assim de forma tão veemente, mas o que fazer quando as mulheres que são vítimas de violência doméstica decidem abandonar a relação ou denunciar a agressão, ainda correm mais riscos. O que fazer então? O que fazer num país onde as mulheres e as crianças não são protegidas a todo o custo? O que fazer quando acabamos por compactuar com estas histórias e decidimos não meter a colher entre marido e mulher? Vivemos numa sociedade ego centrista, que é regida pelo deixa andar.
Ao ter conhecimento ontem que uma mulher sofreu maus tratos durante 30 anos, tendo sido espancada até à morte, quando os vizinhos, colegas de trabalho, familiares sabiam e limitavam-se a fazer um dossier das ocorrências para quando fosse necessário, ainda me enraivece mais. Lamento dizer mas o dossier não vai ajudar muito agora, pois já têm o corpo de uma mulher e a confissão do marido. A culpa também é vossa, a culpa é de todos nós que nos limitamos a observar sem tomar nenhum tipo de decisão. Pois recuso-me a continuar a aceitar este tipo de culpa, recuso-me a permanecer impávida nesta situação, porque quando houver uma próxima eu vou meter a colher, eu vou estrebuchar e vou lutar para que mais nenhuma mulher tenha que passar este tipo de violência. Chega de passividade. É um basta...
Se quiserem se chocar mais um bocadinho ficam a saber que 83% dos homicídios conjugais na década de 90 eram praticados por homens sobre mulheres, novos dados não temos, mas posso avançar que cada ano que passa são maiores os números. E as crianças não ficam de lado nesta violência, pois este ano foi noticiado duas crianças mortas depois do pai ter morto a mãe, um rapaz morto por defender a mãe das agressões do padrasto e uma mulher morta ao defender a irmã do ex-companheiro. E isto são os casos que são noticiados, mas nem todos eles são denunciados e nem todos têm o direito de chegar às luzes da ribalta, pois o número deve ser bem mais elevado.
Se nos EUA 1 em cada 4 mulheres sofre ou já sofreu agresões sexuais, em Portugal 1 em cada 5 mulheres sobre de violência doméstica. Os dados devem ser bem mais elevados.
Até quando...