DESABAFOS & LOUCURAS

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Obrigada anjo...


Eu acho que por vezes não nos sentimos contentes na pele que temos. Na vida que levamos. Nos objectos que temos. Quando era miúda eu queria tudo aquilo que via. Tudo é uma palavra tão curta mas tão forte. Ninguém pode ter tudo. Ninguém pode ter absolutamente tudo. O que é que fazíamos depois de ter tudo?
Mas eu era assim em miúda. Acho que devia ser muito chata, mimada, arrogante. Às vezes quando falam de mim em miúda não me reconheço e sou tantas vezes comparada contigo, apesar de haver pouco para comparar. Eu costumo pensar muito como tu serias se ainda fosses viva. Quais seriam as nossas parecenças, se nos dávamos mal, se a mãe seria menos “assim” se fossemos duas. Sei que sabes que o momento que mais precisei de ti foi a seguir ao acidente do pai. Precisei de alguém para me dizer não, para me acompanhar, para brincar, para sorrir.
Por vezes penso que se não tivesses partido eu não estaria aqui, eu não teria nascido. Acho que não teria mesmo apesar da mãe dizer o contrário. Então é injusto, muito injusto, tu teres que abdicar de ti para eu ter nascido e aí ter iniciado a minha vida. Às vezes simplesmente estou cansada. Cansada de tudo, de ninguém, de nada. Preciso de ti em vários momentos da minha vida, de desabafar, dizer o que me preocupa, falar de tudo e de nada. Porque é que te levaram a ti e ao pai? Porque é que eu tive que ficar sem nenhum dos dois? Sei que não posso reclamar de tudo pois afinal ainda fiquei com a mãe, mas porque é que vocês me foram arrancados? Porque é que ele teve que sofrer tanto na vida?
Não sei se existem anjos da guarda, mas se existirem, tu és o meu, o nosso de certeza absoluta. A tia gosta muito de dizer que nunca conheceu ninguém tão meigo, doce e com cara de anjo como tu. És o meu anjo S.
Que me protejas sempre contra todas as tempestades da vida e que me continues a mostrar o caminho, e que eu pense sempre que apesar de todas as tempestades amanhã é outro dia.
Obrigada anjo.